quarta-feira, 14 de maio de 2008

A última grande entrevista a Rui Costa enquanto jogador


«Nada supera a felicidade de terminar a carreira no Benfica»

Chegou a hora. Depois de passados 26 anos desde o dia em que abraçou, ainda menino, a carreira de futebolista, Rui Costa despede-se dos relvados ao serviço do mesmo Clube que tão honrosamente representou na etapa inicial da carreira. Pelo meio, mais de uma década em que espalhou brilho e magia em Itália e também gloriosos anos ao serviço da Selecção Nacional.

Em vésperas da despedida dos relvados, em jogo relativo à 30.ª jornada da Bwin Liga, ante o V. Setúbal, Rui Costa concedeu ao Site Oficial do Benfica uma entrevista em que não escondeu as emoções que lhe atravessam a alma. O “Maestro” num adeus sentido.

“Viver” a camisola

Rui, este é mesmo o último jogo oficial da sua carreira?
Ainda me custa acreditar estar a chegar ao fim da minha carreira. Foi um ciclo fantástico que agora se encerra. Apesar de me custar dizê-lo – e por vezes admiti-lo – é a minha despedida como jogador profissional de futebol.

Naquela que é a contagem decrescente para o final de um ciclo, que sentimentos lhe atravessam o espírito e que pensamentos lhe assomam a mente a pouco tempo de pisar o relvado da Luz pela última vez em termos oficiais? Como está a viver esta semana?
Há um misto de sentimentos: tristeza por deixar de fazer aquilo que mais gosto de fazer, orgulho por tudo o que vivi nestes anos todos, alegria por poder fazer a despedida no Clube onde comecei e perante o meu público, e saudades. É estranho mas ainda sem ter terminado, já começo a sentir saudades de tudo quanto vivi enquanto jogador!

O que lhe têm dito, ao longo da presente semana, aqueles que lhe são mais próximos, em especial familiares e amigos? Existe alguma frase ou pedido que o tenha marcado nesta altura? E quanto aos adeptos, o que mais lhe têm dito nas ruas?
Creio que o pedido que mais tenho ouvido nestes últimos meses/semanas é para continuar, mas essa decisão já esta tomada e assumida. Há um tempo certo para parar, às vezes não conseguimos sair quando devemos. Não quero correr esse risco!

O Benfica já teve muitos heróis, mas a relação com o Rui tem algo de especial. Como explica esta forma de estar dos benfiquistas em relação a si? Além da imensa categoria futebolística e do reconhecido benfiquismo, tem alguma "teoria" para tanta empatia?
É algo que me enche de orgulho e creio que se pode explicar por uma razão muito simples: sempre vivi a 'camisola' do Benfica, mesmo quando estive fora. Saí do Clube, não por minha vontade, mas pela necessidade que o Benfica tinha; fui para onde o Benfica quis e regressei com um contrato em branco. Tudo isto, seguramente que é apreciado e valorado pelos adeptos e ajudou a fortalecer essa empatia.

Emoções e objectivos

Tendo em conta a forte relação que une os adeptos ao Rui (e vice-versa), e imaginando a forma como se despedirá dos relvados neste domingo, é, ainda assim, capaz de garantir que não voltará a chorar de emoção quando a Luz se erguer para o aplaudir?
Impossível, creio mesmo que será difícil não o fazer!

Os adeptos serão igualmente fundamentais no apoio a um Benfica que se vê obrigado a ganhar e a esperar pelo que se passará noutros campos. Que mensagem deixaria aos benfiquistas que se deslocarem à Luz?
É preciso acreditar que podemos, ainda, chegar à Champions. Enquanto houver esperança vamos dar tudo para lá chegar. É verdade que não dependemos de só de nós, mas apesar de não acreditar neles, os 'milagres acontecem'.

Naquela que foi uma das melhores épocas do Rui nos últimos anos, o Benfica viveu uma das suas piores temporadas. Apesar de ter provado que, aos 36 anos, manteve a qualidade que todos lhe reconhecem, acreditamos que se sente infeliz neste momento. De que forma faz, assim, o balanço de uma temporada que se poderá considerar agridoce?
Apesar de tudo quanto se passou esta época, nada supera a felicidade de terminar no Benfica a minha carreira. É evidente que preferia fazê-lo num cenário bem diferente, mas infelizmente temos de viver a realidade, não é algo que se possa escolher. Mas independentemente de tudo, estou feliz por me despedir da profissão neste estádio e perante o meu público.

Terá, a partir desta altura, um papel igualmente fulcral, mas a outro nível, no Benfica. O que levará dos relvados para as mesas de trabalho de forma a potenciar o seu trabalho e, por outro lado, que princípios promete seguir fielmente de forma a ajudar o Benfica a atingir um patamar de maior sucesso em termos desportivos?
Quanto ao futuro, chegará o tempo certo para falarmos sobre ele. Agora é tempo de pensar no Vitória de Setúbal!

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